sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Heróis




Porque ontem falei do pior que o ser humano consegue fazer, dei o pior exemplo de sempre, porque atingiu milhões de pessoas, só porque eram diferentes, hoje quero lembrar que nós (pessoas) também somos capazes do melhor!
Por isso quero lembrar Aristides Sousa Mendes, um diplomata português em Bordéus, em 1939. Que estava ali ao serviço do seu país (na altura governado pelo Prof. Oliveira Salazar, e portanto a viver numa ditadura), que tinha uma boa visa, que tinha os filhos e a mulher a seu cargo, que levava uma vida boémia... E que no meio da sua vida viu milhares de pessoas (há quem fale em 30000) sem esperança, sem nada, que tinham perdido tudo, que não tinham uma casa, um local para onde ir, que tinham sido despojadas de tudo e que não tinham direito sequer a uma explicação. Pessoas que fugiam do terror dos nazismo, sem sequer poderem perceber porque é que eram perseguidas. Afinal eram só judeus, cidadãos da Alemanha, da Polónia, com uma vida organizada e que de repente se viram sem nada!
Ele viu estas pessoas que lhe pediam ajuda, só precisavam de um visto para poderem passar a fronteira com a Espanha, entrar em Portugal (país "neutro") e daí apanharem aquilo que lhes restava de vida na América, no Canadá. Viu estas pessoas e a sua consciência despertou. Sabia que ia perder o que tinha, sabia que ia deixar os filhos numa situação má, que não ia poder dar à mulher a vida a que estava habituada, mas não podia passar ao lado do que estava a ver.
Durante dias e noites, com o secretário e o filho mais novo deixou as pessoas entrarem, assinou vistos, permitiu que aquelas pessoas se salvassem de um destino terrível. Foi avisado pelo Estado português para parar, mandaram-no suspender as suas funções, mandaram-no voltar para Portugal, onde iria sofrer as consequências do seu acto. Veio, com um rabi amigo (Rabi Kruger), mas pelo caminho continuou a assinar vistos, porque não podia pensar no destino que esperava aquelas pessoas.
Perdeu tudo, ficou sem trabalho, sem direito a uma reforma digna desse nome, sem dinheiro para se aquecer e para comer. Viveu os últimos anos de vida da caridade da Cozinha Judaica em Lisboa e morreu no Hospital de todos os Santos.
A sua memória demorou anos a ser reabilitada e os seus actos nunca foram, em Portugal, devidamente reconhecidos. A sua família teve que emigrar, cá não tinha onde trabalhar. Ainda há poucos anos (em termos históricos, cerca de 20) um politico português conhecido e pelos vistos admirado por grande dos portugueses, disse que não podia apoiar um acto de desobediência.
Hoje a família luta com a falta de fundos para restaurar a sua casa, em Cabanas de Viriato, e para criarem um Museu do Holocausto em Portugal, para que estas memórias nunca se percam! Hoje foi dia de os lembrar!
PS - Tudo o que escrevi foi com o coração, sem recorrer aos meus trabalhos sobre o assunto, por isso não cito datas ou factos certos, porque o importante é lembrar. Se alguém quiser saber mais alguma coisa basta perguntar. As fotos são minhas, a dele tinha no meu arquivo de trabalho e a da casa foi tirada por mim, numa das visitas que fiz.

2 comentários:

Bichinha disse...

Bem... já tinha ouvido falar dele mas não conhecia a história assim tão bem... e quase que não há palavras... infelizmente os bandalhos continuam a ser condecorados, amados e admirados e quem de facto é humano, é esquecido. É triste ver que a minha gente mudou, é outra, está diferente do que eu sempre a imaginei, perdida de valores, de sentimentos... enfim...

Anónimo disse...

Concordo com a Bichinha, mas acredito que há uma minoria que silenciosa talvez, mas quando for preciso serão heróis concerteza...