terça-feira, 30 de novembro de 2010

Coisas que não entendo

Há uma coisa que não entendo (aliás, há várias coisas que não entendo, mas que não vou falar agora): porque é que as pessoas não respondem aos emails? Não é a todos os emails… Não é aqueles que diz no fim “não responder para este endereço”, é aos emails que se utilizam para substituir a conversa de viva voz… para perguntar como a outra pessoa está, para partilhar algo de engraçado ou de menos engraçado que nos tenha acontecido, para convidar e para marcar dias para datas importantes! É a esses emails que me refiro… Será que custa muito responder? É porque se custa é só avisar e vamos tentar voltar à velha conversa de viva voz…

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Mudança de visual

Alterei finalmente o visual aqui do cantinho... Este é mais outonal/invernoso! Parece-me melhor! Não tirei a imagem, porque, mesmo sem ver o mar durante algum tempo, ele continua a ser um doa meus vícios! Também podia por o café ou o chá, mas acho o mar mais bonito e mais abrangente... Lolololol! Estes são os meus vícios públicos, porque os privados não poria, são isso mesmo, privados, íntimos, mas muito, mesmo muito viciantes!
Se não gostarem digam qualquer coisa!

A minha avó

A minha avó nunca vai ler este post, porque não sabe ler, nunca vai saber da sua existência, porque nunca lho vou dizer, não sabe o que é um blog, nem sabe ir à internet!
Mas a minha avó é uma das pessoas mais inteligentes que conheço e que sabe estar, sabe viver e sabe fazer os outros à sua volta felizes. Sabe mais do que possamos imaginar, mas é muito inteligente para o demonstrar. Por isso lhe quero agradecer do mais fundo do meu coração!
E não só por isso: a minha avó cuidou de mim e tratou de mim quando era pequena, depois quando fui para a creche e não gostava a minha avó vinha de casa dela à minha. De autocarro, fizesse chuva ou sol, buscar-me à Sexta-feira, porque era a única maneira de eu ir para a creche de boa vontade durante a semana.
Quando fui para a escola os fim-de-semana eram em casa da minha avó. Aos Domingos havia almoço de família! A minha avó sempre acolheu todos bem e sempre defendeu os filhos! E isso é bonito!
Quando fui viver sozinha, se queria comer esparregado era só ligar num dia à noite, que já sabia que no outro ao almoço tinha o esparregado pronto para mim. Quando fui trabalhar e tive que viver lá em casa um ano, ela fazia a comidinha que sabia que eu gostava, eu saia à noite e ela nunca perguntava com quem, para onde… a minha avó respeita os outros e as suas opções de vida! E isso não é uma coisa que se veja muito! A minha avó faz hoje 83 (ou 4) anos, mas é mais moderna que muita gente nova que por aí anda… porque a modernidade não é uma questão de idade, é uma questão de temperamento!
Eu adoro a minha avó!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Lua


Alturas havia em que esta "nossa" lua era vista em 2 locais distantes... Era vista por nós, em sítios diferentes, e nessa altura sabíamos que mesmo longe, mesmo com tudo o que nos separava, a distância era encurtada, sabíamos que os nossos corações batiam ao mesmo tempo e que sonhávamos em uníssono!
Hoje vemos a lua ao mesmo tempo, podemos sonhar em conjunto e temos o nosso local para a ver! Hoje já nada nos separa! Mas a "nossa" lua contínua a fazer-nos companhia!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Um conto por semana...

" Bolo-Rei

Todos os anos, quando os velhos Reis Magos acabam de atravessar pequena estrada de areia que se esboça entre caminhos de musgo e lagos feitos de bocados de espelho partido; quando a estrela de prata que se suspende entre os dois exemplares de “A Paleta e o Mundo” de Mário Dionísio se recolhe para regressar à velha caixa de papelão, com trinta anos de viagens, cheia de bocados de jornal amachucados que ainda guardam notícias de dias que já foram e onde se embrulham os cordeirinhos, os pastores, as oferendas várias que o Menino Jesus recebeu, apesar de já lhe faltar a mãozinha direita que alguém partiu em excesso de limpeza; todos os anos, dizia, recordo a história que o Fernando Midões me contou, certa tarde em que misturámos poemas com lágrimas.
De calças à golfe, lacinho à Baptista Bastos, fato de ver a Deus e celebrar o Dia de Reis, Fernando foi com a mãe jantar a casa das senhoras, gente de talher de prata, criadas de avental branco e crista engomada, cheias de silêncios e reverências.
Com olhos de amora madura, esse sorriso que ainda hoje conserva, sempre molhado de uma melancolia que tem de adivinhar-se mais do que ver-se, Fernando entrou na sala de jantar das anfitriãs, cujas portas só o espírito natalício abria, raros que eram os gestos de caridade e partilha. Assim se explicava a presença do rapazinho e sua mãe, viúva recente e que ali trabalhava de manhã à noite, para que a vida se assemelhasse ao que já fora.
Servidos os manjares da época: a canja onde as bolhas de gordura lembravam pequenos sóis fumegantes, o leitão de maçã vermelha na boca que olhava Fernando em gritos de sufoco que só ele, poeta em germinação, conseguia ouvir; os fritos vários que nas travessas exibiam a abastança, chegou finalmente e foi colocado em lugar de honra, no centro da mesa, ladeado por dois castiçais onde as velas vermelhas ardiam, o bolo-rei, roda magnífica de cores, frutas, pinhões, bocados de açúcar que lembravam neve e cujo esplendor ofuscava o dourado das filhós, os reflexos das garrafas de licor, o brilho dos copos de cristal.
Fernando, pequenino, queixo tocando a toalha de renda, olhava aqueles mistérios de cor e perfume e falava, falava, dizia coisas tão a propósito que as senhoras, enlevadas, não se cansavam de sorrir e felicitar a mãe que tal filho tinha. Então, a mais velha, cabeção de renda e camafeu de marfim a fechar as golas, pega na faca de prata e com solenidade, meticulosamente, parte o bolo. A criada ajuda à distribuição nos pratinhos de sobremesa.
— Agora, não se esqueçam: aquele ou aquela a quem calhar a fava terá de pagar o bolo-rei no ano que vem!
E entre comentários de enlevo, gula, elogios à tessitura e ponto ideal do levedo da massa, à abundância das frutas, à maciez e agrado do paladar, se comeu a sobremesa.
A prenda calhou à criada.
— Que sorte! Mostre lá!
— Olhe que medalha tão bonita! Parece uma libra de verdade. Até pode usar no fio que ninguém diz que não é autêntica.
— E tu, Fernandinho, não acabas de comer a tua fatia de bolo?
— Come que está bom e fofinho!
Fernando, subitamente silencioso, abanava a cabeça em negativas.
— Então, filho! Não sabes falar? Responde às senhoras: queres mais um bocadinho de bolo?
— Ao menos acaba esse!
— Está cansado, coitadinho! Deixe-o lá.
Fernando baixava a cabeça, cabelos lisos na testa. A noite ia adiantada. A Miguel Bombarda, onde moravam, ainda ficava longe. Sim, minha senhora, amanhã às oito cá estarei, se Deus quiser, para cortar o vestido novo e pôr em prova a saia do “tailleur”. Foi uma noite muito bonita. Muito obrigada! Fernando dá um beijo às senhoras e agradece. Diz obrigado, Fernando!
Fernando deu o beijo às senhoras, esticou a cara, pôs-se em bicos dos pés, encheu os olhos de gratidão.
— Diz obrigado, filho! Mas o que te aconteceu?
— Deixe-o lá, coitadinho, perdeu a língua. É o sono, não é?
Descem o elevador, abrem a porta da rua. A mãe, agastada, ralha:
— Mas que vergonha! Umas senhoras tão boas, recebem-nos como família, estavas a portar-te tão bem e agora isto, nem uma palavra de agradecimento, nem boa noite, é esta a educação que te tenho dado? Se o teu pai fosse vivo…
Então, já na rua, o frio de Janeiro a gelar-lhe as mãos e o nariz, a névoa a transfigurar a rua e as pessoas, Fernando, finalmente, abre a boca e lá do fundo deixa voar o mistério da sua inesperada mudez:
— É que me calhou a fava, mãezinha. Eu sei que tu não tens dinheiro para, no ano que vem, comprares um bolo-rei igual àquele.
E, na palma da mão pequenina, cuspiu a fava que ali nascia, quente ainda, do esconderijo em que estivera.
E ainda hoje, nas horas mais dolorosas, quando se esquece de mastigar a comida que arrefece no tabuleiro da cantina e prefere viajar no país da infância, Fernando Midões, meu irmão mais antigo, sente a ternura solidária do abraço e o húmido das lágrimas com que a mãe o aconchegou junto de si.
Sem palavras, mãe.
Sem palavras. "

Maria Rosa Colaço
Viagem com Homem dentro (adaptação)
Leiria, Editorial Diferença, 1998

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Um desabafo!

Às vezes tentamos, às vezes queremos ter as pessoas por perto, queremos falar, estar com as pessoas, queremos dar o que de melhor temos! Às vezes estamos sempre no mesmo, tentamos e voltamos a tentar, chamamos, perguntamos, abrimos as portas de casa e do nosso coração! Às vezes apetece-nos desistir, apetece deixar andar e deixar de fazer qualquer esforço!
Depois temos que nos lembrar que existem coisas muito importantes na nossa vida, existem coisas das quais não estamos dispostos a abrir mão sem lutar, sem nos empenharmos a 100%!
Eu não sou das que desisto com facilidade, nem à 1ª, nem à 10º... Sou persistente, quando gosto de alguém e acho que as pessoas gostam de mim empenho-me! Mas há dias em que só me apetece desistir!Porque estas coisas não são unilaterais!
E pronto, tenho dito! Foi um desabafo!
E agora vou às compras!

Semanas e fins-de-semana

Há semanas que parecem grandes e pequenas ao mesmo tempo, que parecem duas e só meia semana! Esta foi uma dessas semanas, que por um lado as horas custaram a passar, porque queria que passassem mais depressa, por outro, já é outra vez 6ª feira? É fim-de-semana e tempo de descanso!
Desejo a todos um bom fim-de-semana!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

OLÈ!!!!

As selecções, tal como as pessoas, não se podem deitar à sombra “da bananeira”, neste caso, à sombra dos títulos. A Espanha é campeã da Europa e campeã do Mundo. É sem dúvida, uma selecção muito boa, pelos títulos, a melhor do mundo! A Espanha tem um grande treinador, o Sr. Del Bosque tem no seu CV incontáveis títulos ganhos! Portugal, como selecção, nunca ganhou nada… O mais perto que esteve foi no Europeu em que perdeu a final para a Grécia, no Mundial a seguir que chegou aos 4º final, mas não tem um título… Neste Mundial de triste memória deixou-nos a todos cabisbaixos (e a alguns com uma grande neura) … No apuramento para o Europeu de 2012. ao inicio pôs-nos a fazer contas de cabeça e levou-nos a pensar que desta vez é que era, ou melhor, desta vez é que não era… Nem sequer seriamos apurados para o Europeu!
De repente, cresceu e mostrou o valor que tem. Os jogadores portugueses são bons (alguns muito bons), afinal sabem jogar quando envergam a camisola das quinas, não jogam só nos clubes… A Espanha pensou que chegava aqui e fazia BUUUUUU e Portugal jogava como no último jogo que fez contra eles: encolhia-se e ficava à espera que um milagre da Nossa Senhora (de Fátima ou de Caravaggio) se desse! A Espanha não esperava e foi vê-los a mudar de cor ao longo do jogo! Porque o jogo foi a feijões, mas é sempre um jogo e a campeã do mundo não deve gostar de perder por 1-0, nem por 2-0, quanto mais por 4-0 (que podiam ter sido 5 se o Sr. árbitro não fosse um bocadinho cegueta)!
Eles não passaram a jogar mal e nós não passámos a ser melhores que os melhores do mundo, no futebol estas coisas acontecem (tal como na vida), mas dá que pensar!
A minha veia de padeira de Aljubarrota está satisfeita! E deve haver por aí muita gente a magicar sobre o que se passou realmente no Mundial… (Queiroz, Queiroz, eu não sou de intrigas mas que a culpa foi sua, isso foi…)!
E a vida não é só futebol, mas um bom jogo de futebol ajuda-nos a viver a vida com um bocadinho de melhor disposição!

PS – Não me importo com os que vocês leitores (não sei se haverá mais do que um…lololol) possam pensar, gosto de futebol, fico com a neura e zangada quando a selecção faz má figura, não gostava do seleccionador e sentia-me defraudada. Fico com melhor disposição quando ganhamos 4-0 a outra selecção e melhor ainda se esta for a Espanha e ainda melhor, quando ela é campeã. Sou fútil? Se calhar, mas nem só de Cimeiras se faz o mundo…

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Pessoas

Havia uma célebre frase, aqui há uns anos que dizia mais ou menos o seguinte: “eu nunca me engano e raramente tenho dúvidas”… Pois eu engano-me muitas vezes e quase todos os dias sou assolada por dúvidas imensas!
Quando vemos uma pessoas, quando convivemos com essa pessoas e queremos ajudar não imaginamos aquilo que pode acontecer. Quando deixamos os sentimentos interferirem no nosso trabalho ficamos toldados e depois é uma chatice (assim para utilizar uma expressão leve)! Eu já devia saber isso, porque há alguns anos que trabalho com pessoas, directamente com os seus problemas, as suas dúvidas e receios. As pessoas nem sempre nos querem enganar porque somos nós, a maior parte das vezes nem em nós pensam, querem o seu bem-estar, querem aquilo que lhes é mais favorável! E devia ter consciência disso, devia saber que assim é! Mas ainda me espanto, ainda me engano, ainda penso o melhor das pessoas. E não quero deixar de ser assim, porque esta é uma característica minha, que embora algumas vezes me tenha entristecido, a maior parte das vezes é positiva. Será que um dia vou perder esta minha característica por causa dos outros?

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Obigada caro(a) M

É realmente desgastante, sim senhora... Posso publicar o comentário, até porque não tenho maneira de o evitar, não são moderados... Até agora nunca foi necessário! Obrigada pela informação correcta! Quando assim é não faz mal serem publicados os comentários. Não me importo com isso!
Disponha sempre!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Leituras

Já alguém experimentou dar a leitura da EDP, com um contador novo, digital, de uma tarifa bi-horária, onde supostamente devemos ter um sol para indicar as horas do horário completo e uma lua para indicar as horas de vazio, num átrio de um prédio sem interruptores, porque a luz funciona com sensores de movimento? E não haver nenhum sol e nenhuma lua? Se não experimentaram experimentem, porque é uma maneira divertida de passar o serão!
PS - O título é enganador... Lololol!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Achei que sim


Achei que sim, que devia publicar aqui o postal que este meu amigoesfera me enviou! Há muito tempo que não recebia um postal (contas não contam como postais) e foi bom lembrar o tempo em que os amigos iam de férias com os pais (até podia ser para a praia que fica aqui a 30 Km) e nós, em casa esperávamos ansiosamente pelos postais que nos mandavam, aos quais respondíamos para a morada indicada, passando assim os 15 dias de separação mais rápido! Por isso, pelas boas recordações e pelos bons sentimentos que me trouxe já agradeci, agora quero partilhar um postal que tanto tem a ver comigo!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Lei do apadrinhamento civil: o que é?

Hoje vinha no carro a ouvir o noticiário quando ouvi uma noticia sobre esta lei... Ai«o chegar ao trabalho, abri o mail e também tinha uma reflexão sobre a dita lei. Confesso que ainda não fui pesquisar e ler a lei, mas estou muito interessada, porque em torno dela, as opiniões dividem-se e apesar de não ter sido largamente divulgada na comunicação social, é sem dúvida uma lei que vem alterar de alguma forma, comportamentos e mentalidades.
Quando ler deixo aqui a minha modesta opinião, até lá transcrevo um texto de quem sabe o que diz.

" Apadrinhamento civil. O Simplex da adopção?
Fonte: Ionline
Data: 06-11-2010
Autor: Sílvia Caneco
Tema: Crianças e Jovens

Dentro de dias vai ser possível acolher crianças, mas sem que estas quebrem
o vínculo com os pais biológicos. Especialistas duvidam da eficácia

Menos demorado do que um processo de adopção e mais duradouro e estável do
que um processo de acolhimento familiar. O apadrinhamento civil - a nova
figura jurídica que permite acolher uma criança ou jovem em risco desde que
não se quebrem os laços com a família biológica - entra em vigor dentro de
50 dias e é uma espécie de Simplex da adopção. Resolve os casos em que os
menores não reúnem as condições para ser adoptados e é, pelo menos, mais
rápido do que um processo de adopção: no prazo de seis meses, quem
apresentar candidatura terá resposta a indicar se está ou não habilitado a
ser padrinho civil. Só que é necessário que os pais biológicos concordem com
o apadrinhamento. E que, depois de estabelecido o compromisso, os padrinhos
civis aceitem receber visitas da família de origem do afilhado em casa,
concordem com o envio de fotos ou outros documentos de imagem a documentar o
crescimento da criança e, ainda, se esforcem para que o vínculo aos
progenitores não seja quebrado.


Falhas

A obrigatoriedade da manutenção dos laços com a família de origem é um dos
pontos que os especialistas criticam nesta nova figura jurídica. Luís
Villas-Boas, psicólogo e director do Refúgio Aboim Ascensão, alerta para "o
efeito perturbador" que o contacto com as duas famílias pode ter na criança
ou no jovem apadrinhado. "Essa divisão por pais e padrinhos pode dificultar
a construção de um projecto de vida", avisa. Villas-Boas - que foi
responsável pela Comissão de Revisão da Lei da Adopção - socorre-se ainda do
fracasso da adopção restrita (modalidade que prevê continuação dos contactos
com a família biológica mas que quase não é escolhida pelos candidatos a
adopção) para mostrar que "poucos serão os que querem adoptar uma criança,
mantendo a família de origem por perto".

A advogada Lídia Branco também duvida que a nova figura criada para integrar
estas crianças num ambiente familiar "resolva o problema do número de
crianças institucionalizadas no país" - em 2009, 9563 crianças estavam em
instituições de acolhimento. Para a advogada, o primeiro entrave ao êxito do
regime é desde logo a necessidade do aval da família biológica ao
apadrinhamento. "Não podemos generalizar, mas a verdade é que muitas destas
crianças vêm de famílias desestruturadas" que "nem sempre têm discernimento
para aferir o que é melhor para os seus filhos", justifica, apontando outros
entraves ao sucesso da medida, como a necessidade de manutenção de contacto
entre a criança e a família biológica.

Os padrinhos, que devem ter mais de 25 anos e condições económicas, sociais
e emocionais confirmadas pela Segurança Social, passam a assumir as
responsabilidades parentais e a beneficiar dos direitos de pais (para
efeitos de dedução fiscal ou protecção social) mas não os substituem: o
apadrinhamento só poderá avançar se os pais biológicos aceitarem acompanhar
o crescimento dos filhos. "Poucas pessoas estarão disponíveis para receber
uma criança em casa e sujeitar-se à intervenção dos pais e poucos destes
pais terão o discernimento e o querer para acompanharem a sua educação e o
seu crescimento", avisa Lídia Branco.


Vantagens

O apadrinhamento civil tem, no entanto, a vantagem de resolver casos em que
a adopção não era uma alternativa e assim ser mais uma medida para diminuir
o número de crianças institucionalizadas. "Há crianças que ficam em
instituições durante anos e anos porque os pais biológicos não autorizam a
adopção", aponta a advogada. "Tendo em conta que em Portugal se cultiva o
depósito de crianças em centros de acolhimento, se isto servir para resolver
três ou quatro casos seria óptimo", realça Luís Villas-Boas, aproveitando
para criticar "o atraso de um ano" na regulamentação do regime jurídico do
apadrinhamento civil (estava previsto que a regulamentação da lei demorasse
apenas 120 dias a contar da data da sua publicação em Diário da República,
em Setembro de 2009).

Além de ser um processo mais célere do que o da adopção, o apadrinhamento
civil "impede que haja um sentimento de perda por parte da família
biológica", já que nesse regime "os pais perdem todos os direitos sobre a
criança", esclarece a advogada.

Por outro lado, estimula um projecto de vida e não uma "educação a prazo",
como acontece no caso do acolhimento familiar. "Os acolhedores criam laços
afectivos óbvios mas nunca podem entender a criança como sua, porque são
sempre famílias transitórias. Neste caso falamos de um acolhimento a título
definitivo", explica Lídia Branco.

A advogada entende que uma das formas de contornar as lacunas deste regime e
estimular o apadrinhamento passaria por estabelecer uma retribuição mensal,
como já acontece com as famílias de acolhimento. "Existem muitas famílias
que gostavam de acolher uma criança mas não conseguem suportar os custos de
a educar. Uma prestação mensal traria mais candidatos a acolhedores e
esvaziaria as instituições."

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Um conto por semana...

Akli, Príncipe do Deserto

— Mãe, já não sou uma criança — disse Akli. — Quero ir buscar a minha espada a casa do tio, na cidade.
— És demasiado novo, filho. Para chegares à cidade, tens de atravessar o deserto. Se fores sozinho, arriscas-te a encontrar os Kel Essuf, esses génios malvados e horrendos como monstros.
— Mas eu não tenho medo deles — objectou Akli.
Como o pai não estava em casa e a mãe não o proibira de ir, Akli decidiu pôr-se a caminho. Procurou, então, Abdallâh, um beduíno que conhecia todos os trilhos.
— Levas-me até ao meu tio, Abdallâh? Quero ir buscar a minha espada.
— És demasiado jovem para teres uma espada e nem sequer tens uma moeda para me dar. Põe-te a andar!
Akli não se deixou desencorajar e pediu a um camelo:
— Azumar, leva-me à cidade, já que gostas tanto de viajar.
— Estou velho demais — respondeu o camelo.
— Dar-te-ei uma sela de prata — prometeu Akli.
Ao ouvir estas palavras, Azumar ficou radiante e aceitou a proposta do rapaz, que pensou para consigo: “Que camelo mais pateta! Acreditou mesmo que vou dar-lhe uma sela de prata. Como é fácil enganá-lo.”
Quando já viajavam há três horas, Akli avistou um génio. Era escuro como madeira queimada e ameaçou:
— Ou me dás de beber ou não te deixarei passar!
Akli só tinha um cantil de água. Não podia dá-lo ao génio. Então, teve uma ideia. Pôs-se a cantar a canção mais triste que conhecia. Ao ouvi-la, o monstro começou a chorar. Em breve, chorava tão copiosamente que bebeu todas as suas lágrimas e acabou por deixar passar o rapaz.
— Como vês, Azumar — disse Akli, algum tempo depois — já sou um homem. Não tive medo. Sou o grande príncipe do deserto.
— Não te alegres antes do tempo, meu rapaz — advertiu o camelo. — Ora vê o que vem lá.
A areia mexeu-se. Um outro génio avançou, do tamanho de uma nuvem.
— Ou me fazes rir ou não te deixo passar!
Akli ficou atrapalhado. Não conhecia nenhuma história que fizesse rir um génio. Este pareceu zangar-se. Então, o camelo aproximou-se dele e começou a lamber-lhe os dedos dos pés. O génio desatou a rir e deixou-os passar.
Um pouco mais à frente, aproximou-se um outro génio, maior do que uma duna.
— Ou me metes medo ou não te deixo passar!
Akli ficou novamente atrapalhado. Não conhecia nenhuma história que metesse medo a um génio. O camelo aproximou-se do monstro e virou-se de costas para ele. Bruscamente, expeliu do traseiro uma enorme quantidade de ar, que soou como um tiro de espingarda.
O génio, apavorado, deu um grito e deixou-os passar.
— É a segunda vez que te salvo — comentou Azumar, algum tempo depois. Penso que mereço bem a minha sela de prata.
— Claro que mereces. És como um irmão para mim — respondeu Akli, fazendo-lhe festas.
De repente, Azumar deu um grito de alegria:
— Olha! Conseguimos! Chegámos à cidade.
Akli nunca tinha visto uma cidade tão grande, com tantas coisas para comprar. Tinha duas pequenas moedas no bolso e com elas comprou um grande bolo de mel para si e um mais pequeno para o camelo.
— E a minha sela de prata? — perguntou Azumar.
— Compro-ta mais tarde. Prometo! — respondeu Akli.
Enquanto comia o bolo, o rapaz pensava: “Deixa-o sonhar. É tão fácil enganá-lo.”
Akli foi visitar o tio, que ficou surpreendido de o ver.
— Os teus pais deixaram-te viajar sozinho pelo deserto, com a tua idade? — perguntou-lhe.
— Deixaram. Na minha aldeia todos sabem que já sou um homem.
O tio deu-lhe, então, uma bela espada, ornamentada com duas pedras azuis como o céu.
Nessa mesma noite, deitado numa esteira, Akli adormeceu tranquilo, com a espada apertada contra si. Azumar dormiu ao relento, preso a uma corda, mas não estava triste.
— De certeza que amanhã receberei a minha sela — pensava, fechando os olhos docemente.
No dia seguinte, Akli agradeceu ao tio as suas hospitalidade e oferta, e montou Azumar. No deserto, o vento soprava sem parar e Akli divertiu-se a aparar os grãos de areia com a espada.
— Não te alegres antes do tempo — avisou o camelo. — Vê só o que vem aí.
De repente, levantou-se uma tempestade de areia. Os génios tinham-se escondido porque têm sempre pavor do vento. Como haviam de avançar e descobrir o trilho na areia? Mas Azumar era forte e corajoso. Não fraquejou e seguiu, determinado, em frente.
— Acho que mereço bem a minha sela de prata — gritou para Akli, por entre as rajadas de vento.
À noite, o rapaz chegou ao acampamento.
— Obrigado, Azumar. Dava-te uma lua de prata, se pudesse. Adeus! — despediu-se.
E fugiu, envergonhado.
Desapareceu tão depressa que o camelo nem teve tempo de replicar.
Akli correu em direcção à tenda, a fim de mostrar a espada ao pai e aos outros homens.
O pai sorriu-lhe. Serviu-lhe chá e pediu que contasse a viagem. Akli relatou tudo o que se passara e os homens ouviram-no com atenção. Quando terminou o relato, o pai disse-lhe :
— Estou orgulhoso de ti, filho. Mereceste bem a tua espada. Aproxima-te, quero dar-te uma prenda.
O pai ofereceu-lhe uma sela, mais branca e brilhante do que a lua. Akli ficou surpreendido com o presente, mas compreendeu logo o significado do gesto do pai. Saiu da tenda e foi colocar a sela docemente no dorso de Azumar, que entretanto adormecera.



Carl Norac
Akli-Prince du Désert
Paris, l’ecole des loisirs, 2006

Passei por cá...

Só para dizer que estou aqui, que não me esqueci, que tenho saudades de escrever! Mas que o tempo não tem sido muito, os problemas são alguns e a disponibilidade para escrever não está em grande aqui para estes lados!
Mas um dia destes regresso!
Até lá vou por mais um conto de enc(o)antar!