quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Conversa I

No sofá, a ler uma revista do social…

Minha Pessoa – Porque é que a Aurora Cunha se veste como um homem? (Aurora Cunha a atleta)
Eu – Onde está a Aurora Cunha?
Minha Pessoa – Aqui, nesta foto…
Eu – Mas onde? Em qual?
Minha Pessoa – Nesta, aqui de baixo à esquerda!
Eu – Ahhhh…. É a Aurora Cunha? Pensei que fosse o Herman José!

(Conclusão: ou a Aurora Cunha engordou muito, ou o Herman José emagreceu muito ou eu preciso muito de ir ao oftalmologista).

"Não vá o diabo tecê-las"

Mas será que o diabo, com o seu rabinho pontiagudo e os corninhos, tem um tear onde está a tecer, mas só de vez em quando?
E depois os empregados dele lá no Inferno perguntam: “onde está o patrão?” E o chefe responde: “está a tecer”! Eles dizem: “Ui… Os lá de cima (nós) que se cuidem…”
É isso?
Juro que me faz confusão…

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

E agora para coisas realmente importantes

Ontem foi o dia em que a morte venceu a vida! E ainda bem, porque prova que mesmo num buraco escuro, ainda há esperança de uma saída!

E viva o Chille, mierda!

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Visual

Não vou falar de trabalhos visuais, nem por aqui fotos do meu visual de hoje... Até porque não é algo que considere com interesse (nada contra quem põe)!
Vou falar do visual do blog: estava aqui a olhar e deu-me um arrepio de frio! Acho que vou ter que mudar para um visual mais de acordo com o tempo que se tem vindo a fazer sentir! :)
Quero opiniões, sugestões e outras coisas que se lembrarem!

A nossa Selecção

Com tranquilidade lá vamos andando! Neste momento estamos a 2 pontos da Noruega e tudo pode acontecer!
Vamos ver, daqui a 8 meses!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

...

O tempo tem sido escasso aqui por estes lados… Há sempre muita coisa para fazer e muita gente para atender… Por isso tenho andado desaparecida! Há noite, quando chego a casa e tenho um minuto para descansar só me apetece não fazer nada…
E a inspiração também não está nos seu melhor momento…
Às vezes as coisas não são bem como nós queríamos e isso faz-nos ficar parados, durante uns tempos… Sem saber o que fazer… Até que depois pensamos e agimos! Eu, pelo menos, funciono assim… Primeiro tenho que pensar, antes de fazer qualquer coisa, tenho que reflectir e pensar no que quero fazer… Só é pena às vezes não fazer o mesmo em relação a falar… As coisas saem-me pela boca fora e quando penso que não as devia ter dito, já não há nada a fazer… Enfim, é uma luta que tenho vindo a travar desde há muitos anos! E garanto que estou melhor… Mas isto é como as dietas, não se vêem resultados assim muito rápido!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Um conto por semana...

A História dos Brincos de Penas II

…continuação

Porém, o índio Pé-de-dança, o actual mestre-de-cerimónias da tribo, também quis dar um ar da sua graça. De facto, parecia-lhe mal não dar a sua opinião sobre o que quer que fosse, mesmo que não tivesse certezas. Afinal, ele era o mestre-de-cerimónias, com o curso completo, e não um ignorante qualquer!
Bamboleando-se, Pé-de-dança opinou na sua voz de falsete:
— Pois para mim são penas de pavão.
— Pavão?! — insurgiu-se o índio Pé-Coxinho, que até se levantou, procurando a custo equilibrar-se. E repetiu, incrédulo: — Pavão?!
Pé-Coxinho tinha ficado com o pé esquerdo sob a roda de uma carroça, quando era pequeno. Desde então, não voltara a pôr o pé em terra e era campeão em muitas gincanas que a tribo organizava na Primavera, convidando outras tribos a participar — uma espécie de olimpíadas cem por cento índias, com modalidades absolutamente únicas e extraordinárias, nas quais o primeiro prémio era a cobiçada Seta de Ouro. Pé-na-tábua, o condutor mais rápido do Oeste, levantou o braço, pedindo para falar.
Os outros calaram-se e ouviram-no afirmar:
— Concordo com Pé-Coxinho. Não podem ser penas de pavão. Eu acho que são penas de pombo. Já vi umas assim numa revista, numa das viagens que fiz. Tenho praticamente a certeza de que são de pombo, sim.
Ninguém partilhou da opinião de Pé-na-tábua, o condutor de carroça mais veloz e experiente da tribo Sempre-em-pé, que nunca tinha atropelado nem sequer um escorpião.
Depois de a opinião de Pé-na-tábua ser rejeitada por maioria, levantou-se a índia Pé-Firme, mulher do Chefe. Pé-Firme era rechonchuda e forte como um guerreiro, sendo igualmente destemida. Era perita em luta corpo a corpo e nunca virava costas a uma
briga. Usava sempre ao pescoço um colar de dentes de tubarão que o marido comprara a um vendedor ambulante que por ali passara, vindo de um país longínquo.
Ora, a mulher do Chefe não perdia uma oportunidade para se fazer ouvir nas reuniões da tribo. Era, sem dúvida, uma mulher sem papas na língua, que é como quem diz, capaz de dizer tudo o que lhe vinha à cabeça, além de ter uma voz parecida com um trovão dos maiores. De resto, alguns dos homens da tribo tinham a voz mais fina do que a dela,
embora não o quisessem admitir.
Pé-Firme falou:
— Ninguém aqui se entende! Ninguém sabe o que diz! Então não se está mesmo a ver que as penas são de águia?! De que outra ave poderiam ser, se são as águias que mais cruzam os céus por cima das nossas cabeças?
— Não posso concordar com Pé-Firme — interveio Pé-de-chumbo, afastando da testa uma madeixa de cabelo que o incomodava.
Pé-de-chumbo era o pior dançarino de toda a tribo e, certamente, das tribos mais próximas, mas não desistia de tentar, convidando para dançar todas as mulheres que conhecia — desde as mais novas e bonitas às mais velhas e enrugadas.
A mulher do Chefe olhou-o com cara séria, mas ele não se intimidou e explicou:
— As penas de águia são maiores do que aquelas que o pequeno Pé-de-atleta trouxe consigo. Para mim, são penas de condor.
— Com dor fiquei eu depois de dançar contigo — atalhou a índia Sem-Pé, que levara uma pisadela terrível do índio Pé-de-chumbo, numa festa para comemorar uma boa chuvada que caíra do céu para o bem de todos, depois de uma seca prolongada.
Sem-Pé era muito baixa e refilona, falando sempre com o dedo indicador bem espetado no ar. Não suportava que alguém lhe pisasse os calos (que lá eram muitos). Por esta razão, andava sempre de botas, mesmo no pino do Verão.
Chegou então, muito atrasado, Pé-ante-pé, o índio mais preguiçoso da tribo, que se deixara dormir.
Estava realmente embaraçado e sentou-se em silêncio. Quis passar despercebido, mas o Chefe perguntou-lhe o que pensava das penas que Pé-de-atleta tinha na mão.
Depois de olhar para as penas, Pé-ante-pé lá se manifestou:
— São de ganso. É isso mesmo: são penas de ganso-selvagem.
— Ganso-selvagem? Que ideia! Parece que nunca viram um ganso-selvagem! — indignou-se Pé-na-argola, que sonhava ser juiz, mas raramente lhe pediam a opinião.
Depois, ao ver que todos os olhares estavam postos em si, empertigou-se e ajeitou o colar de ossos de galinha que pertencera ao seu pai.
Por fim, tossicou e disse de sua justiça, alto e bom som, em tom quase solene:
— As penas que o pequeno Pé-de-atleta encontrou só podem ser de uma ave: a perdiz.
— Peço a palavra — disse o índio Pé-Sujo, levantando-se. Em seu redor, os companheiros fizeram caretas que nem se deram ao trabalho de disfarçar.
Na realidade, Pé-Sujo dormia sempre ao relento e odiava tomar banho, só o fazendo no dia do aniversário do Chefe. As suas roupas também não eram lavadas há muito tempo e estavam cheias de nódoas de toda a espécie. Por causa disto, ouvia insultos e protestos todos os dias, de mulheres e homens, jovens e crianças. Porém, ninguém conseguia arrastá-lo até à beira do rio para o fazer mergulhar na água ou, pelo menos, lavar os pés.
— Quanto a mim, são penas de avestruz — disse Pé-Sujo, que nunca tinha visto aquela ave, mas quis meter a sua colherada.
— Avestruz era a tua avó — gritou-lhe o índio Pé-Leve, campeão de corrida com obstáculos, que usava sempre ao peito o colar com a medalha que ganhara na última competição contra as tribos vizinhas dos Cabeças-Duras, Mãos-Largas e Narizes-Empinados.
Pé-Leve era também quem mais embirrava com Pé-Sujo, passando a vida a chamar-lhe a atenção e a mandá-lo tomar banho.
Por fim, acrescentou, na sua voz de cana rachada:
— Vê-se logo que são penas de gaivota.
— Uma gaivota deves ser tu — comentou o índio Pé-em-riste, com voz de poucos amigos, levantando e abanando o pé onde trazia uma colecção de pulseiras coloridas compradas numa feira muito conhecida.
Depois, continuou: — Desde quando é que há gaivotas no céu da nossa tribo, que fica a léguas do mar? Não podem ser penas de gaivota!
A não ser que alguma se tenha perdido do bando e tenha voado até aqui, atraída pelo perfume do Pé-Sujo...
A discussão estava ao rubro. A confusão era mais que muita. Todos gesticulavam e abanavam as cabeças. Uma criança de colo acordou e desatou num berreiro ensurdecedor. Os cavalos da tribo relincharam, agitados.
O pequeno índio achador de penas estava decepcionado. Não conseguia descobrir a quem pertenciam, afinal, aquelas penas que tinham descido do céu mesmo à frente do seu nariz. Ninguém parecia saber, de facto, de onde tinham surgido as penas.
A certa altura, o Grande Chefe Pé-de-galo chamou os seus três conselheiros, todos de cabelos brancos como a neve: Pé-prá-cova (que tinha 90 anos), um seu companheiro de muitas lutas chamado Pé-de-guerra (que já fizera 98 primaveras) e, finalmente, Pé-Sentado (o mais velho de todos, com 103 anos de vida), que sofria de joanetes e só por essa razão raramente saía do seu tipi.
O Grande Chefe quis saber a opinião dos mais velhos e pediu-lhes que, quando tivessem novidades, o avisassem.
Por fim, Pé-de-galo deu por encerrada a reunião, mandando que lhe trouxessem o cachimbo da paz para que ninguém saísse dali zangado.
Então, antes de se retirar, quis que fosse servido um chá de ervas calmantes, para todos irem dormir tranquilamente, ao som dos uivos dos lobos, já que era noite de lua cheia.
Depois de muito pensarem (demoraram o tempo que a lua levou a mudar três vezes de fase), os conselheiros reunidos no tipi do Chefe passaram o cachimbo de mão em mão entre os três, enchendo a tenda de fumaça.
Então, lentamente, abanaram as cabeças para cima e para baixo e cantaram baixinho e muito devagar uma canção que tinham aprendido na infância, Atirei o pau ao coiote.
…continua


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Portas e janelas

Eu não sou de ficar quieta... Quando fico mais triste e quando as coisas não correm bem como esperava, normalmente choro durante 30min (+ ou -) e vou à luta a seguir! Não gosto de ficar à espera, sem saber o futuro, não gosto de deixar essas coisas nas mãos da sorte... Acho que se não lutar, nada me vai cair ao colo! Sei isso por experiência própria! Ontem a noticia não foi a que queria, fiquei desiludida, hoje comecei de novo, e as coisas vão acontecer! Não porque elas aconteçam só porque sim, mas porque eu as faço acontecer!
Esta força toda nem sempre me caracteriza; tenho momentos de muito desilusão, muita tristeza, muita falta de coragem, mas tenho quem me levante, quem me olhe nos olhos e me diga para andar para a frente, quem me faz acreditar que "quando se fecha uma porta, se abrem algumas janelas"!
Obrigada!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

:( :(

Uma ilusão traz-nos momentos de afastamento da realidade... Uma desilusão traz-nos de volta à realidade e deixa-nos mais fortes para a luta! Pelo menos assim espero!

Um conto por semana...

A história dos brincos de penas

Eu, índia Pé-Chato, da tribo dos índios Sempre-em-pé, vou contar-te esta história que se passou comigo, embora não pareça ser verdade.
Bem, é claro que algumas coisas não se passaram exactamente como aqui vão contadas, mas é assim que me lembro delas.
Sei que gostas de histórias, sobretudo à hora de dormir, então aqui vai uma para te fazer sonhar.
É a história de... um par de brincos tão especiais que não há outros iguais no mundo inteiro! Ora presta atenção...
Não vou começar por «Era uma vez», porque já ouviste muitas histórias que começam assim e não gostas de repetições. Cá vai então...
Estava um dia muito luminoso. Era o início da Primavera, estação radiosa na verdejante planície da Águia Tonta.
Todas as coisas criadas por Deus brilhavam de forma especial naquela manhã.
O pequeno índio Pé-de-atleta levantou-se bem cedo como é seu costume — especialmente no tempo quente — e pôs-se a correr pelo vale entre as montanhas cheias de rochedos e árvores tão antigas como o tempo.
Lá foi ele, tropeçando, aqui e ali, em caricas de Coca-Cola e caixas de Chiclets vazias (que o velho Oeste já não é o que era, por causa daquilo a que chamam progresso).
O pequeno índio costuma fazer exercício todas as manhãs, porque o pai, o índio Pé-Grande, lhe disse que só assim ficará alto e forte como ele (convém dizer que o índio Pé-Grande pesa mais de 100 quilos, todo nu, só com o colar de dentes de jacaré ao pescoço).
Ora, a certa altura, Pé-de-atleta parou um pouco para descansar e recuperar o fôlego. Foi então que viu cair, mesmo à frente do seu nariz arrebitado (o único nariz arrebitado da nossa tribo), seis pequenas penas de cores diferentes que, estranhamente, poisaram aos seus pés com toda a suavidade.
Pé-de-atleta baixou-se, recolheu as penas com cuidado para não as estragar e, de novo em pé, pôs-se logo a olhar para o céu…
Nem sombra de ave, qualquer que fosse! Nem condor, nem águia, nem abutre.
O pequeno índio voltou a olhar para as penas que tinha na mão.
Eram bonitas! Seriam mesmo de pássaro como pareciam? Talvez fossem penas de anjo, mas, segundo ouvira o professor Pé-Calçado dizer, as penas de anjo são sempre brancas — mais ainda do que a neve que cobre as montanhas no Inverno —, brancas e muito brilhantes, como se tivessem o Sol lá dentro. Já o vigilante da escola, o índio Pé-Descalço, garantira que os anjos maus tinham penas pretas, mas ninguém ligava muito ao que ele dizia. Na verdade, a sua ambição era ser o curandeiro da tribo, mas tinha ficado desclassificado no concurso por ser tão ignorante que não sabia distinguir uma gota de veneno de serpente cascavel de uma lágrima de crocodilo…
Pé-de-atleta voltou a olhar o céu com toda a atenção como quando seguia o voo de um papagaio de papel que escapara das mãos de um menino da grande cidade, ou quando procurava descobrir uma estrela nova. Porém, nada avistou. Nem ave nem anjo voavam por aquelas bandas naquela manhã.
Intrigado, o nosso amigo guardou as penas e dirigiu-se para a aldeia.
Pela altura do Sol, viu que já eram horas de se apresentar no tipi (nome dado a uma tenda índia) da sua tia Pé-de-meia.
Bem se lembrava de que a tia Pé-de-meia prometera dar-lhe um colar de dentes de urso (já usado) quando ele completasse dez anos de idade, o que acabara de acontecer, na véspera.
Uma promessa é uma promessa! Um índio sabe que deve cumprir o que prometeu.
E Pé-de-atleta lá foi, apressando o passo, de cabelo ao vento, entre voos de insectos coloridos.
A tia Pé-de-meia estava sentada confortavelmente dentro do seu tipi.
Via-se que estava concentrada a coser uma manta muito velha que já tinha dez remendos e cheirava a tantas coisas que atraía coiotes e lobos, mesmo que passassem a
grande distância.
Curioso sobre o seu achado, o pequeno índio resolveu perguntar-lhe se ela sabia a quem teriam pertencido as penas que trazia consigo.
A resposta da tia Pé-de-meia não se fez esperar.
— Ao Tio Patinhas — disse ela, para quem o Tio Patinhas era o pato mais interessante de que ouvira falar. De facto, ele era o ídolo que tanto desejava conhecer, por ser quase tão poupado como ela.
Neste momento, entrou no tipi da tia Pé-de-meia o índio Pé-de-salsa, ajudante do cozinheiro do Chefe da tribo, que vinha trazer uns biscoitos que o cozinheiro Pé-de-porco fizera. Pé-de-salsa ouvira a resposta da tia Pé-de-meia e deu logo a sua opinião: — Toda a gente sabe que as penas do Tio Patinhas são brancas. — Então, pensou um pouco e acrescentou:— Eu digo que são penas de falcão.
Cada vez mais intrigado, o pequeno índio Pé-de-atleta agradeceu à tia o presente que recebera: o colar (muito usado mas ainda com três dentes em bom estado, os restantes estavam cariados ou partidos).
Em seguida, provou um biscoito e despediu-se.
Depois, foi para o seu tipi esperar pela hora da reunião da tribo à volta da fogueira. Nessa altura, segundo esperava, iria satisfazer a sua curiosidade porque algum dos mais velhos haveria de saber dar-lhe uma resposta clara. Os mais velhos sabiam coisas incríveis — até os nomes das estrelas, que eram mais do que todos os antepassados da tribo juntos!
O feiticeiro da tribo estava de férias, numa praia do Brasil. Assim, quando a noite caiu — catrapuz! — sobre a aldeia, o ajudante do feiticeiro, o índio Pé-de-escuteiro, foi buscar lenha e fez a fogueira com todo o rigor, como só ele sabia fazer.
Quando já se via uma bela chama a sair dos ramos, Pé-de-escuteiro abanou a cabeça para cima e para baixo, satisfeito.
A fogueira estava magnífica, digna do índio mais exigente do planeta!
Então, pôs-se a cantar para chamar toda a gente.
Como cantava alto e francamente mal, todos vieram a correr, como sempre, para evitar que caísse sobre a aldeia uma carga de água pesada, acompanhada de raios e trovões. Na realidade, essa calamidade já acontecera porque nem as nuvens suportavam tal cantoria!
Reunidos à volta do fogo, todos começaram por ouvir os mais velhos dizer mal do reumatismo, da tribo Pés-na-terra (grande rival nos jogos e nas lutas) e do seu chefe, o terrível Ponta-Pé.
Em seguida, Pé-Direito, o curandeiro, mergulhou um dedo em mercurocromo e fez dois riscos na cara. Depois, fechou os olhos. Via-se que tinha entrado em grande concentração.
A certa altura, levantou-se e apresentou a sua dança especial para reuniões, ao som de uma cantiga cuja letra só ele sabia, porque lhe tinha sido ensinada pela sua bisavó Pé-Atrás (que pertencia a uma tribo que falava outra língua). De qualquer maneira, segundo parece, tratava-se de uma canção sobre a melhor maneira de fazer uma bebida mágica à base de gengivas de escaravelho, pestanas de lagartixa e unhas de bisonte, com muito piripiri, seiva de cacto e água-pé. Uma bebida para animar os adultos mais tímidos nos serões da tribo.
Depois da dança, fez-se silêncio. Então, o pequeno Pé-de-atleta levantou-se e pediu a palavra para perguntar, mostrando as penas, se alguém sabia de onde teriam vindo. Explicou que não tinha encontrado uma única ave no céu, naquela manhã, o que até podia jurar meia dúzia de vezes, depois de cuspir na mão esquerda e cortar a unha de um dedo do pé, se fosse mesmo necessário.
O primeiro que ali deu a sua opinião foi o índio Pé-de-cabra, que já tinha estado preso por roubar cavalos à tribo vizinha.
Este índio ambicionava entrar num anúncio de televisão a uma marca de cigarros muito famosa, mas, na verdade, não tinha cavalos que o fizessem brilhar como gostaria.
— São penas de faisão — disse Pé-de-cabra, com ares de entendido, atirando a trança para trás das costas, de rompante, fazendo rir a sua mulher, Pé-no-chinelo.
— Qual quê?! — atalhou a índia Pé-de-galinha, que era, juntamente com a sua irmã gémea, a mulher mais velha da tribo e que já via mal (mesmo com a sua inseparável lupa). — Bem se vê que são penas de abutre. — E, em seguida, perguntou à irmã (que tinha vivido em França e era conhecida por Pied-de-poule): — O que é que tu dizes, mana?
A outra mirou e remirou as penas que o pequeno índio lhe foi mostrar e, depois de as aproximar da ponta do nariz, deu uma resposta esclarecedora, na sua voz roufenha:
— Nem mais!
continua…

Explicação

Eu gosto de ler, gosto de livros, gosto de histórias e de História, gosto de contos... Na faculdade (naquela boa) tive uma cadeira chamada "Contos Tradicionais Europeus", da qual gostava muito! Recebo todas as semanas um conto do projecto "Abrir as Portas ao Sonho e à Reflexão", da Escola Secundária Daniel Faria - Baltar. Gostei tanto da ideia que resolvi partilhar! Espero que gostem tanto de histórias como eu!